sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

VALE DO TUA - Universo virginal de um Reino Maravilhoso

De acordo com o Anúncio nº10853/2010, publicado no Diário da República 2ª série do dia 11 de Novembro, o processo de classificação da linha do Tua como património de interesse nacional foi arquivado, com base num parecer da Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura. Desconhece-se a fundamentação do parecer. Presume-se, no entanto, que os senhores conselheiros nunca visitaram a região, pois se a tivessem visitado, enxergariam que este “excesso de natureza”* além de ser do interesse nacional, satisfaz em simultâneos vários dos critérios necessários para a classificação como património da humanidade, e não seria de esperar outra coisa, visto que a linha do Tua desagua na linha do Douro, a escassas centenas de metros do local onde se prevê construir a barragem do Tua, numa área, classificada há mais de 10 anos pela UNESCO, justamente, como Património da Humanidade.
Douro e Tua irmanam-se numa mesma realidade desmesurada, na solenidade da paisagem, num “nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir a céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição”, nos costumes, nas crenças, no clima, na rudeza e integridade das gentes. O homem que desbravou os socalcos do Douro é o mesmo que, calço a calço, susteve nesgas de terra, onde estacas de oliveira medram e alumiam a sua árdua existência, cavou os cantos onde laranjeiras perfumam a primavera, construiu uma geia donde brota o néctar que aqui também é vinho fino; é o mesmo que, corajosamente, palmo a palmo, metro a metro rasgou precipícios, transpôs abismos e furou penedos para construir os túneis e assentar os carris que o haviam de ligar ao progresso; é o mesmo que, destemidamente, lavrou um sulco ondulante num despenhadeiro de pedras e laijões, discreta e genuína obra de engenharia, perfeitamente integrada naquele “universo virginal”, naquela “paisagem robusta solene e profunda”, obra conjunta do homem e da natureza, que Miguel Torga sublimemente pintou. Aqui, porém, o degredo é ainda mais espinhoso que no Douro: os murtórios são fragas a pique onde nem as cabras se equilibram, o xisto é granito rude e duro e o rio, selvagem, ainda “corre magoado de cachão em cachão” num zoar permanente que, no Inverno é medonho, mesmo para os mais afoitos.
O vale do Tua, lugar em que homem e natureza se confundem, desde tempos ancestrais, é manifestamente um sítio de beleza natural e estética de excepcional importância, em que a forma genial e harmoniosa como a linha férrea foi integrada na paisagem ilustra a significativa importância que, embora tardiamente, a máquina a vapor e o comboio tiveram na história social e económica de Tras-os-Montes, na metade inicial do século XX. É um sítio em que as pedras evocam memórias longínquas, ainda intactas, de rituais pré-históricos, de povoados visigóticos, mouras encantadas, romanos diligentes e cristãos destemidos.
Por estas e por outras razões, os senhores conselheiros deveriam conhecer ou pelo menos, indagar no local aquilo que importaria conhecer para, serena e sabiamente emitirem o seu douto parecer. Se se tivessem dado ao deleite de visitar este vale e as suas gentes, seguramente, aconchegariam o corpo e a alma e enriqueceriam o ego de sabedorias ancestrais, que é coisa que os senhores conselheiros muito prezam. Mas ainda o podem fazer, depressa, antes que a barragem lhes troque as voltas e lhes aniquile este “universo virginal”. Batam à porta deste “reino maravilhoso” em S. Mamede de Ribatua, saboreiem um naco de bola de carne, acompanhada com as suas afamadas laranjas – de manhã são ouro – visitem o pelourinho e saiam pela ponte romana, contemplem a imponência da paisagem na Penadaia, em que rio, linha e fragas são, ao mesmo tempo, inferno purgatório e paraíso, visitem o caixão dos mouros, os castelos de Safres e dos Barcos, na ténue linha que separava a fronteira entre cristãos e mouros, desçam ao Amieiro, um presépio de casas, oliveiras, laranjeiras e sobreirais, comam e um doce de figos em Carlão, onde nas fragas estão impressos lagares do tempo dos romanos. Depois, atravessem o rio, deliciem-se com um copo de vinho fino, nas margens bucólicas de Brunheda, regenerem o corpo com um banho nas termas de S. Lourenço, deleitem-se com uma alheira estaladiça no Pombal, que é lugar de vinho de primeira e desçam a linha até ao Tua. Apreciem as obras de arte da engenharia oitocentista – viadutos, túneis e muros, suspensos no abismo das fragas más e, mesmo que não tenham a sorte de poderem admirar uma lontra, mirem as nasseiras, onde, antes das barragens do Douro, se apanhavam lampreias, imaginem o gemido das mós, nos moinhos abandonados, inebriem-se com o perfume de carquejas, bela luzes, alecrins e rosmanos que, “como manjericos à janela”, prodigiosamente, brotam de fragas, aparentemente estéreis, e contemplem a majestade dos sobreiros centenários, que, nesta fortaleza de pedras, guardam a linha e o rio. Se tiverem tempo relancem os olhos pelas encostas e, encarrapitados nos abismos descubram antigos armazéns de vinho, abandonados, ainda com lagariça, peso e restos da rabadeira onde encastrava a trave da prensa. Chegados ao Tua, como recompensa, um pratinho de peixes do rio, com pão de Favaios e vinho da Ameda e, claro, mais um cálice de vinho fino, daquele que no estrangeiro apelidam de vinho do Porto, mas que tem berço neste “reino maravilhoso”, prosa de Miguel Torga, de leitura recomendada aos senhores conselheiros.
Por fim, passem pelos adros das igrejas, no fim da missa, e falem, mas, sobretudo, ouçam, ouçam as gentes da terra e então verão que ainda há reinos maravilhosos que merecem ser estudados, conhecidos, acarinhado e preservados: “O que é preciso, para os ver é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração depois não hesite.”
Depois, sim, elaborem o vosso douto parecer.
Texto: João Zimbreiro, com a ajuda de Miguel Torga



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*Alexandre Herculano

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Petição pela linha do Tua entregue hoje no parlamento

O movimento de defesa da linha do Tua vai entregar hoje, na Assembleia da República, uma petição com 4500 assinaturas a pedirem a reabertura da ferrovia transmontana e a reativação do troço até Bragança.
Recorde-se que o procedimento de classificação da linha do Tua, como património de interesse nacional, foi recentemente arquivado ( Anúncio nº10853/2010 , publicado no Diário da República, 2ª série, de 11 de Novembro).
Linha do Tua, entre Santa Luzia e o Tua (Foto: Jorge Camera)

domingo, 28 de novembro de 2010

Obras de Graciete Nobre online

A revista TriploV publicou online as peças  Aldeia das Cavernas e O Alarme, de Graciete Nobre, que aconselhamos vivamente.
Graciete Nobre é autora de várias obras literárias, nomeadamente das peças A Estalagem, A Ilha das Cruzes, The Inn* e do livro Imaginália (Editora Luz das Letras).


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* Veja aqui.

sábado, 20 de novembro de 2010

Dia 25, na CTMAD: Sessão sobre João Araújo Correia

Numa conversa a dois, entre António José Borges e João Bigotte Chorão, falar-se-á de um dos mais importantes escritores da Literatura Portuguesa de qualidade: João de Araújo Correia, destacado contista, cronista e epistológrafo português do século XX.
João de Araújo Correia nasceu em Canelas do Douro no dia 1 de Janeiro de 1899. Viveu quase toda a sua vida no Peso da Régua, onde exerceu a sua actividade de médico de profissão e de escritor por vocação, como dizia. Faleceu no Peso da Régua no dia 31 de Dezembro de 1985.
Este notável autor deixou-nos dez livros de contos, quatro novelas, oito livros de crónicas, dezassete títulos diversos e um livro de poesia. A Imprensa Nacional – Casa da Moeda está a reeditar a sua obra completa (ficção). Sendo um autor de difícil rotulagem, João de Araújo Correia insere-se na linhagem de escritores do Século XX português que pediram águas a Camilo Castelo Branco, Trindade Coelho ou Fialho de Almeida, entre outros, e que a par de um Aquilino Ribeiro, um Domingos Monteiro ou um Miguel Torga influenciaram outros autores contemporâneos, como Mário Cláudio ou Agustina Bessa-Luís, também entre outros.
Esta sessão na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro visa, então, dignificar mais um autor português, consciente e iluminado, que se quer maior no panorama da Literatura Portuguesa do século XX.

Lisboa, 15 de Novembro de 2010

António José Borges

domingo, 10 de outubro de 2010

Viver, Defender e Divulgar Transmontaneidade e Transmontanismo

É com prazer e honra que os Órgãos Sociais da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro convidam os trasmontanos, familiares e Amigos, para a Sessão Solene de lançamento do livro "Viver, Defender e Divulgar Transmontaneidade e Transmontanismo" da autoria do ilustre consócio e ex-dirigente, Tomaz R. do Espírito Santo.

Fará a apresentação do Autor, o Prof. Doutor Adriano Moreira, às 19:00 horas do dia 15 de Outubro, no Palácio Galveias, perto da nossa Sede, ao Campo Pequeno, em Lisboa.

N. B. – Será servido um jantar evocativo da culinária regional para quem se inscrever até às 16 horas o dia 12, ligando para a sede: 21 793 93 11 ou por e-mail: ctmad.lisboa@gmail.com

domingo, 5 de setembro de 2010

Douro Film Harvest de 5 a 11 de Setembro

A segunda edição do Douro Film Harvest arranca hoje, no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego. A Cerimónia de Abertura estreia a produção moçambicana "O Último Voo do Flamingo", marcando presença o realizador João Ribeiro e o produtor duriense Luís Galvão Teles. Olga Diegues e José Fidalgo são os anfitriões. Os bilhetes estão à venda no valor de 3€.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Nadir Doutor Honoris Causa

O pintor Nadir Afonso, flaviense ilustre e associado da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, vai receber o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Lusíada de Lisboa.

A cerimónia terá lugar hoje, 20 de Julho, terça-feira, numa sessão com início às 16 horas, que decorrerá no Auditório 3 dessa Universidade, situada na Rua da Junqueira, nº 188 – 198, em Lisboa, convidando-se os associados da Casa e os trasmontanos em geral a comparecer.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Graça Morais no Palácio Anjos durante o Verão

No Centro de Arte Manuel de Brito*, Graça Morais expõe, de 29 de Maio a 19 de Setembro, em 68 obras, duas décadas do seu percurso criativo.

*CAMB - Centro de Arte Manuel de Brito
Palácio Anjos, Algés - Alameda Armando Patrone
Tel. 21 4111400 - camb@cm-oeiras.pt

Veja a propósito desta exposição o artigo do DN, de 2010.08.28, de Joana Emídio Marques.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Academia de Letras de Trás-os-Montes já no próximo mês

Foi anunciado, pelo presidente da Câmara Municipal de Bragança, o projecto de constituição da Academia de Letras. O município quer congregar um conjunto de naturais da terra com obra reconhecida a nível nacional, na Academia de Letras de Trás-os-Montes.
Na abertura da Mascararte, em Dezembro 2009, Jorge Nunes disse que estava a trabalhar essa ideia e esse projecto no sentido de agregar à volta de uma instituição um conjunto muito significativo de escritores da região de Bragança, que, através da escrita, têm firmado a identidade da sua terra, têm feito um percurso notável, um percurso único na área das letras da investigação.
O presidente da Câmara Municipal de Bragança explicou, então, que esta poderá ser uma oportunidade de reconhecer o trabalho dessas pessoas e de elas se encontrarem para pensarem a região e projectarem nessa reflexão, também o país, o presente e o futuro.
A apresentação da Academia de Letras de Trás-os-Montes - cujos estatutos já estão prontos e pode ver aqui - está prevista para o próximo dia 12 de Junho, na XXI Feira do Livro de Bragança*.

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*Veja o programa da feira aqui.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O rio Douro

Nascido nas arribas castelhanas,
Pelas serras de Urbion, altas montanhas,
Lendárias maravilhas das Espanhas,
Edénicas, sublimes, soberanas...

Para alcançar as terras trasmontanas,
Que às terras de Castela são estranhas,
Corre veloz, usando de mil manhas,
A fim de as separar, sendo hermanas.

O rio, todavia, alturas tantas,
Vencidos precipícios e gargantas,
Flecte à direita e entra em Portugal.

Desvendados mistérios e segredos,
Entre colinas, prenhes de vinhedos,
Desagua, sereno, em Portus Cale.

Cláudio Carneiro

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Papa Bento XVI reúniu com mundo da cultura

No Centro Cultural de Belém, Sua Santidade o Papa Bento XVI reuniu, dia 12 de Maio 2010, às 10:05, com mais de 1500 personalidades lusas do mundo da cultura.



Leia a intervenção do Santo Padre:

Venerados Irmãos no Episcopado,
Distintas Autoridades,
Ilustres Cultores do Pensamento, da Ciência e da Arte,
Queridos amigos,

Sinto grande alegria em ver aqui reunido o conjunto multiforme da cultura portuguesa, que vós tão dignamente representais: Mulheres e homens empenhados na pesquisa e edificação dos vários saberes. A todos testemunho a mais alta amizade e consideração, reconhecendo a importância do que fazem e do que são. Às prioridades nacionais do mundo da cultura, com benemérito incentivo das mesmas, pensa o Governo, aqui representado pela Senhora Ministra da Cultura, para quem vai a minha deferente e grata saudação. Obrigado a quantos tornaram possível este nosso encontro, nomeadamente à Comissão Episcopal da Cultura com o seu Presidente, Dom Manuel Clemente, a quem agradeço as expressões de cordial acolhimento e a apresentação da realidade polifónica da cultura portuguesa, aqui representada por alguns dos seus melhores protagonistas, de cujos sentimentos e expectativas se fez porta-voz o cineasta Manoel de Oliveira, de veneranda idade e carreira, a quem saúdo com admiração e afecto juntamente com vivo reconhecimento pelas palavras que me dirigiu, deixando transparecer ânsias e disposições da alma portuguesa no meio das turbulências da sociedade actual.

De facto, a cultura reflecte hoje uma «tensão», que por vezes toma formas de «conflito», entre o presente e a tradição. A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro. Mas uma tal valorização do «presente» como fonte inspiradora do sentido da vida, individual e em sociedade, confronta-se com a forte tradição cultural do Povo Português, muito marcada pela milenária influência do cristianismo, com um sentido de responsabilidade global, afirmada na aventura dos Descobrimentos e no entusiasmo missionário, partilhando o dom da fé com outros povos. O ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum, embora a influência do iluminismo e do laicismo se tivesse feito sentir também. A referida tradição originou aquilo a que podemos chamar uma «sabedoria», isto é, um sentido da vida e da história, de que fazia parte um universo ético e um «ideal» a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo.

A Igreja aparece como a grande defensora de uma sã e alta tradição, cujo rico contributo coloca ao serviço da sociedade; esta continua a respeitar e a apreciar o seu serviço ao bem comum, mas afasta-se da referida «sabedoria» que faz parte do seu património. Este «conflito» entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade, pois só esta pode orientar e traçar o rumo de uma existência realizada, como indivíduo e como povo. De facto, um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados. Prezados amigos, há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade. Com efeito, a Igreja «tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do ser humano, da sua dignidade, da sua vocação. […] A fidelidade à pessoa humana exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade (cf. Jo 8, 32) e da possibilidade dum desenvolvimento humano integral. É por isso que a Igreja a procura, anuncia incansavelmente e reconhece em todo o lado onde a mesma se apresente. Para a Igreja, esta missão ao serviço da verdade é irrenunciável» (Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 9). Para uma sociedade composta na sua maioria por católicos e cuja cultura foi profundamente marcada pelo cristianismo, é dramático tentar encontrar a verdade sem ser em Jesus Cristo. Para nós, cristãos, a Verdade é divina; é o «Logos» eterno, que ganhou expressão humana em Jesus Cristo, que pôde afirmar com objectividade: «Eu sou a verdade» (Jo 14, 6). A convivência da Igreja, na sua adesão firme ao carácter perene da verdade, com o respeito por outras «verdades» ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade.

«A Igreja – escrevia o Papa Paulo VI – deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, a Igreja torna-se mensagem, a Igreja faz-se diálogo» (Enc. Ecclesiam suam, 67). De facto, o diálogo sem ambiguidades e respeitoso das partes nele envolvidas é hoje uma prioridade no mundo, à qual a Igreja não se subtrai. Disso mesmo dá testemunho a presença da Santa Sé em diversos organismos internacionais, nomeadamente no Centro Norte-Sul do Conselho da Europa instituído há 20 anos aqui em Lisboa, tendo como pedra angular o diálogo intercultural a fim de promover a cooperação entre a Europa, o Sul do Mediterrâneo e a África e construir uma cidadania mundial fundada sobre os direitos humanos e as responsabilidades dos cidadãos, independentemente da própria origem étnica e adesão política, e respeitadora das crenças religiosas. Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza.

Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética, capacidade renovada de «novos mundos ao mundo ir mostrando», como diria o vosso Poeta nacional (Luís de Camões, Os Lusíadas, II, 45). Vós, obreiros da cultura em todas as suas formas, fazedores do pensamento e da opinião, «tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e colectiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. […] E não tenhais medo de vos confrontar com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história rumo à Beleza infinita» (Discurso no encontro com os Artistas, 21/XI/2009).

Foi para «pôr o mundo moderno em contacto com as energias vivificadoras e perenes do Evangelho» (João XXIII, Const. ap. Humanae salutis, 3) que se fez o Concílio Vaticano II, no qual a Igreja, a partir de uma renovada consciência da tradição católica, assume e discerne, transfigura e transcende as críticas que estão na base das forças que caracterizaram a modernidade, ou seja, a Reforma e o Iluminismo. Assim a Igreja acolhia e recriava por si mesma, o melhor das instâncias da modernidade, por um lado, superando-as e, por outro, evitando os seus erros e becos sem saída. O evento conciliar colocou as premissas de uma autêntica renovação católica e de uma nova civilização – a «civilização do amor» - como serviço evangélico ao homem e à sociedade.

Caros amigos, a Igreja sente como sua missão prioritária, na cultura actual, manter desperta a busca da verdade e, consequentemente, de Deus; levar as pessoas a olharem para além das coisas penúltimas e porem-se à procura das últimas. Convido-vos a aprofundar o conhecimento de Deus tal como Ele Se revelou em Jesus Cristo para a nossa total realização. Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza. Interceda por vós Santa Maria de Belém, venerada há séculos pelos navegadores do oceano e hoje pelos navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza.



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quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Segador Transmontano

Homem valente!... mão esquerda armada em garra com "dedais",

Na direita, a seitoura arqueada, em aço, bem afiada e cortante;

Na cabeça, o chapéu de palha protege-o do Sol escaldante!..

O corpo rijo inclinado sobre a seara madura, (dos trigais,


Ou dos centeios), dourada, com a fresca brisa ondulante,

Que ele derruba, a golpes sucessivos, em arcos quase iguais,

Deixando atrás de si o restolho e as gabelas tão iguais,

Que atará em molhos, com saber e arte, num abraço possante!

...

Bem alimentado!... o “pipo” do vinho e a cantarinha de barro,

De água fresca, desejada, a circular!.... o sol escalda e o esforço

É desmedido, por entre a palha ardente e as fartas espigas!...


A cada braçada sua a seara tomba!... (vê-lo, era um regalo!...),

Quando pelo caule faz passar o gume de aço e nada grosso,

Enquanto lança no ar as canseiras, na forma de cantigas!....


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JoséAgostinhoFins

Agrochão – Vinhais

(fins.707@gmail.com)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nadir Afonso "sem limites", no Porto e em Lisboa

Nadir Afonso expõe no Museu Soares dos Reis, no Porto, até 13 de Junho. Mais tarde a exposição "Sem Limites" muda-se para o Museu do Chiado, em Lisboa, de 22 de Junho a 3 de Outubro.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

18 de Abril: Abertura oficial do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios na Régua

Subordinada ao tema Património Rural e Paisagens Culturais, o ICOMOS-Portugal em associação com o IGESPAR colabora na organização de mais de 400 iniciativas por todo o país, para comemorar, no próximo dia 18 e Abril, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios , cujo Programa Geral pode consultar aqui.
A abertura oficial do dia ocorrerá em Peso da Régua, no Museu do Douro, com o Encontro PATRIMÓNIO RURAL: TERRITÓRIO E PAISAGEM COMO RECURSO CULTURAL, seguido de uma Visita guiada a Ucanha e Persegueda. Acções conjuntas do ICOMOS-Portugal com o Ministério da Cultura, Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, IGESPAR, DRCN, Missão do Douro, Turismo do Douro e Museu do Douro com o programa seguinte:

Marta Sosa, um trasmontano na Academia

Joaquin Marta Sosa, nascido em Nogueira (Bragança)em 1940,a viver na Venezuela,foi eleito membro da Academia Venezolana de la Lengua, sendo o primeiro que não tem o castelhano como língua materna.
O seu primeiro livro Anunciación apareceu em 1964. Desde então publicou uma dezena de obras, das quais se destacam Oscuro sol de los puertos (1998) e Territorios Privados (1999), com que foi galardadoado no Prémio de Literatura del Ayuntamiento de Caracas. Mais recentemente publicou Las manos del viento (2001) e El rio solitario (2004). Um ano mais tarde reuniu toda a sua obra poética de 1964 a 2004 sob o título Los barcos de la memoria. É responsável por antologias como Navegación de tres siglos, Antologia basica de la poesia venezolana 1826/2002 (2003) e Poetas e Poéticas de Venezuela (2004).
A poesia de Joaquín Marta Sosa destaca-se, nas palavras de Rafael Arráiz Lucca pela "síntesis alcanzada entre la pulsión narrativa y una muy decantada expresión lírica". Em Amares - a sua obra mais recente - a memória consubstancia-se no território particular do diálogo maduro com a mulher amada e na sua presença como espaço de vida.
Veja a entrevista concedida, em 6 de Março 2009, ao Asturias Opinión, em que o escritor também fala da sua terra.


quinta-feira, 1 de abril de 2010

XXVI PRÉMIO DE POESIA CIDADE DE OURENSE

Uma vez mais a Cidade de Ourense promove o seu Prémio de Poesia, destinado a originais em Galego e Português. O vencedor arrecadará a quantia de 6.000 euros e verá a sua obra publicada.

O prazo de entrega de originais (que, para os poetas portugueses, poderá ser feita na Câmara Municipal de Vila Real) termina no dia 30 de Abril de 2010.

Os interessados no concurso poderão solicitar as bases ao Grémio Literário Vila-Realense, através do endereço gremio@cm-vilareal.pt ou pelo telefone 259 303 083.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Homenagem a Escritores de Barroso

É com vivo entusiasmo que o informamos da homenagem aos nossos amigos e escritores transmontanos Dr. Bento da Cruz, Dr. João Barroso da Fonte e Padre Lourenço Fontes na nossa Casa no dia 26, sexta-feira, pelas 18 horas.

Acontece que estes nossos queridos amigos fazem anos entre 19 e 22 de Fevereiro. Além disso o Dr. Bento da Cruz acaba de assinalar os seus cinquenta anos de vida literária; o Dr. Barroso da Fonte e o Padre Lourenço Fontes viram agora completado um perfil biográfico sobre as suas vidas e obras.

Como expressão de amizade, gratidão e carinho resolvemos organizar uma cerimónia com os seus amigos transmontanos e alto-durienses a residir em Lisboa, num encontro de proximidade, partilha, convívio e reconhecimento do seu trabalho criativo, exortando-os a continuar a dar o testemunho de um tempo e de uma terra que Miguel Torga consagrou como “ Um Reino maravilhoso”.

Na ocasião os autores falam da sua obra e no final tem lugar uma refeição ligeira para quem o solicitar até à véspera.

No sábado, dia 27, sábado, pelas 12h, vai decorrer um Almoço Transmontano no Restaurante Quinta Antiga.

Contamos também com a sua honrosa presença e aguardamos a respectiva reserva para este evento.

A Direcção da CTMAD

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO “CORRESPONDÊNCIA – 1873/1908”

Organização, leitura e notas Hirondino Fernandes,

Bragança, Brigantia, 2008-2009.

A publicação da Correspondência de Trindade Coelho, publicada no final de 2009, é um dos mais interessantes acontecimentos literários dos últimos tempos. Oferece um texto fascinante pela beleza da escrita e pela sua riqueza documental.

Hirondino da Paixão Fernandes (o mais erudito de todos os transmontanos) coligiu, leu e anotou, num opulento volume, 511 missivas escritas por Trindade Coelho, entre 1873 e 1908. Estas cartas preenchem quase todo o percurso existencial do autor (desde os 12 anos até ao fim da vida) e dão testemunho do seu relacionamento com cerca de uma centena de destinatários, entre os quais se encontra um amplo leque dos mais ilustres vultos do horizonte literário e cultural português daquele tempo.

A correspondência está organizada e distribuída por ordem cronológica e vem acrescentada com índices exaustivos de lugares, pessoas e assuntos, que facilitam a procura dos aspectos que mais podem interessar a cada leitor.

Percorrendo toda a obra são muitos e bons os motivos que tornam particularmente gratificante a sua leitura.

Salientam-se, pela sua extensão e importância, as 67 cartas de intenso dramatismo emocional dirigidas à lusitanista alemã Luísa EY (um romance-verdade mais bem escrito do que muitos romances epistolares);

A reflexão apaixonada sobre a educação e a política educativa, a discussão crítica e teorética sobre a escrita e a literatura são aspectos que documentam, com grande autenticidade, a conjuntura histórica da época, e que manifestam um raro sentido crítico, uma dimensão cívica, e um vigor intelectual admiráveis. Trindade Coelho foi um grande escritor e um homem sério que cultivou a liberdade e que praticou e defendeu a justiça.

Finalmente, a correspondência revela um transmontano amante da sua terra e da sua gente, generoso para com os seus conterrâneos, e com uma fervorosa vinculação do escritor e da sua criatividade literária às raízes do saudoso pátrio lar.


#Telmo Verdelho

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CURRICULUM VITAE

Telmo Verdelho (1943/11/1).

1.1. Licenciatura em Filologia Românica; doutoramento em Linguística Portuguesa, agregação em História da Língua.

1.3. Professor Catedrático (Universidade de Aveiro) aposentado.

1.4. Actividade docente

— Universidade de Aveiro (1977 — 2007)

— Bolseiro do Governo Francês (1980-84) na Universidade de Paris IV (Sorbonne).

— "Chargé de conférences", na Ecole Pratique des Hautes Etudes, em Paris, (1984).

— Professor Convidado, na Universidade de Paris IV (Sorbonne) (1991/92).

— Professor Visitante na Universidade de Santiago de Compostela em 2000/2001

— Professor Convidado na Universidade da Corunha (2004/2005).

1.5. Participou em várias dezenas de encontros científicos com apresentação de comunicações; integrou muitos júris de concursos e de provas académicas, e orientou e continua a orientar teses de doutoramento e de mestrado nas áreas da linguística, da filologia e da história da cultura.

1.6. Coordenou vários projectos de investigação, o último dos quais, financiado pela FCT, sob a referência de “Corpus” Lexicográfico do Português", mantém na Internet um portal com a abundante informação sobre os dicionários e a lexicografia portuguesa.

1.7. Foi distinguido com o primeiro prémio da Sociedade de Língua Portuguesa e Instituto do Livro (1981)



Principais publicações:



Além de inúmeros artigos versando temas da sua especialidade, publicou os seguintes livros:

As Palavras e as Ideias na Revolução Liberal de 1820. Coimbra, INIC, 1981.

Índice reverso de "Os Lusíadas". Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade, 1981.

As origens da gramaticografia e da lexicografia latino-portuguesas. Aveiro, INIC, 1995.

Dicionarística portuguesa: inventariação e estudo do patrimómio lexicográfico. (em colaboração com João Paulo Silvestre, Aveiro: Universidade de Aveiro, 2007.

O encontro do português com as línguas não europeias, exposição de textos interlinguísticos. Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 2008.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Mais uma exposição de pintura na sede

José Augusto Coelho, brindou-nos mais uma vez com as suas telas, nas quais e através das quais, ele plasma reminiscências que lhe advêm dum passado espaço-temporal que não renega. Bem pelo contrário, faz gala em trazê-las para o presente, em impô-las ao nosso olhar, em embrenhá-las na nossa sensibilidade.
Desde as puídas botas do avô, no quadro “Páginas da Vida” aos verdes e amarelos de vários outros quadros que lhe devem povoar as cearas e as várzeas da saudade, José Augusto Coelho está indelevelmente ligado à terra que o viu nascer e às terras que o formaram.
Daí que a sua pintura, muitas vezes onírica, não deixe de ser límpida, bucólica, romântica e terrena, naquilo que estas expressões têm de mais sincero, de mais enraizado, de mais sensível, de mais material.
Utilizando frequentemente técnicas mistas, como o óleo e o acrílico, e também aqui, simbolicamente, o passado e o presente, somos, perante muitos dos seus quadros, levados a concluir que estando perante uma pintura não susceptível de etiquetagem simplista, não conseguimos discernir se estamos perante uma pintura abstractamente concreta, como uma ou outra tela nos querem transmitir ou se ela é concretamente abstracta como outra ou outra além nos querem fazer deduzir.
#José Luís Castor